O Pé de Carambola do Sítio do Tio Pedro Rolim
Era uma tarde quente de verão em Itapetininga quando eu, ainda criança, cheguei ao sítio do Tio Pedro Rolim. A casa, com o telhado de barro e a varanda simples, era o refúgio perfeito para aqueles dias abafados da cidade. O aroma do mato e do milho recém-colhido no ar trazia uma paz que não se comparava a nada que eu já tivesse sentido.
Mas o que realmente me fascinava naquele lugar era o velho pé de carambola que ficava no canto do sítio. Tio Pedro sempre dizia que ele era especial, como uma espécie de guardião do lugar.
“Esse pé de carambola aqui, minha sobrinha, é mais velho do que parece. Quando eu era menino, ele já estava crescendo forte no meu sítio, bem aqui do lado da casa. Dizem que as raízes dele trazem sorte pra quem souber cuidar”, dizia Tio Pedro com aquele sorriso que só ele sabia dar.
Naquele dia, ao me aproximar do pé de carambola, vi que os frutos estavam maduros e brilhavam como se estivessem aguardando para serem colhidos. As folhas, verdes e viçosas, pareciam dançar com a brisa suave que soprava do campo. Eu nunca me cansava de olhar aquele pé, que, de alguma forma, me transmitia uma sensação de tranquilidade e aconchego.
“Quer ajudar a colher as carambolas?” perguntou Tio Pedro, com os olhos brilhando de entusiasmo.
Ele me guiou até a árvore, me mostrando como escolher os melhores frutos, aqueles que já estavam no ponto certo: com a casca dourada e os cinco lados levemente encurvados, como se estivessem pedindo para serem saboreados. A colheita foi rápida e, antes de perceber, já tínhamos uma cesta cheia de carambolas fresquinhas.
Enquanto estávamos ali, pude ouvir o som suave da Tia Maria na cozinha. Ela estava preparando a famosa geleia de carambola, que sempre foi uma das minhas memórias favoritas do sítio. O cheiro doce e cítrico invadiu o ar e me fez sorrir. Tia Maria, com suas mãos habilidosas, sempre soubera transformar até os frutos mais simples em algo mágico.
“Vocês dois já colheram as carambolas? Vai ficar uma delícia a geleia hoje!” gritou ela da janela, enquanto mexia a panela. “Quando terminar a brincadeira, venha ajudar, minha filha!”
Com a cesta cheia, fomos até a cozinha, onde a Tia Maria já estava colocando as carambolas picadas no fogo, misturando com açúcar e uma pitada de amor. A geléia espessava lentamente, tomando uma cor dourada, enquanto eu brincava com os cachorrinhos na varanda, sentindo a brisa fresca da tarde.
Tio Pedro, com um sorriso no rosto, me disse: “Essas carambolas são como a vida, às vezes doces, às vezes um pouco ácidas, mas sempre vale a pena colher, porque, no fim, temos algo bom em nossas mãos, como essa geleia da Tia Maria.”
Depois de um tempo, a geleia ficou pronta, e Tia Maria nos serviu um pedaço de pão fresco, coberto com uma camada generosa da geléia dourada. O sabor era único, doce e ligeiramente ácido, como se cada pedaço tivesse o poder de contar uma história. E, de fato, cada colherada parecia carregar um pedaço da história daquela família, daquelas raízes profundas que sempre estiveram ligadas à terra.
Enquanto o sol começava a se esconder atrás das montanhas, Tio Pedro me contou mais sobre o pé de carambola e a importância dele para a família. Era uma árvore que sempre dava bons frutos, mesmo em tempos difíceis. Nas estações secas, quando o restante das colheitas falhavam, o pé de carambola sempre se mantinha firme, dando frutos saborosos que ajudavam a alimentar a família.
“Às vezes, as pessoas não entendem, mas a natureza tem seus próprios jeitos de ajudar. O segredo está em respeitar e cuidar do que temos”, disse ele, olhando com carinho para o pé de carambola.
Aquela tarde no sítio do Tio Pedro Rolim ficou gravada na minha memória como uma lição sobre resiliência, paciência e o valor da vida simples no campo. O pé de carambola, com seu tronco robusto e suas frutas saborosas, se tornou um símbolo de tudo o que o sítio representava: um pedaço de terra que, com muito amor e cuidado, poderia nos dar frutos abundantes, tanto de comida quanto de sabedoria.
E assim, toda vez que volto ao sítio, não posso deixar de olhar para aquele pé de carambola, imaginando quantas histórias ele tem para contar e quantos outros momentos simples e preciosos ele ainda será testemunha.
Agora, convido você, querido leitor, a compartilhar suas próprias histórias. Quem sabe você também tem uma lembrança especial ligada a um pé de fruta, a um sítio, ou a um momento que marcou sua vida? Deixe nos comentários ou envie um relato para o meu blog. Será um prazer saber um pouco mais sobre suas memórias e experiências, e quem sabe até transformar as suas histórias em inspiração para outras pessoas.